A 17ª Bienal de Arquitetura de Veneza está em andamento, revelando uma ampla gama de respostas à pergunta "Como viveremos juntos". Com 60 pavilhões nacionais, inúmeras contribuições de arquitetos convidados de todo o mundo e vários eventos paralelos, a edição deste ano reafirma o papel da Bienal como uma plataforma para investigação, exploração e pensamento disruptivo em arquitetura. A declaração original do curador Hashim Sarkis convocou os arquitetos "a imaginar espaços nos quais possamos viver juntos com generosidade". As circunstâncias recentes tornaram a questão ainda mais relevante, levando a uma reavaliação holística de como o mundo, como um coletivo, pode enfrentar mudanças e desafios de uma escala sem precedentes, desde o papel perturbador da tecnologia até a desigualdade, a migração em massa e as mudanças climáticas. As contribuições nacionais a seguir refletem sobre "como viveremos juntos" em meio às mudanças climáticas, explorando ideias para um futuro mais sustentável.
Como o tema da Bienal deste ano foi um convite para questionar o status quo e refletir sobre o futuro, ele trouxe um foco mais nítido à relação da sociedade com o meio ambiente. Com o setor da construção responsável por impressionantes 39% dos gases de efeito estufa globais, os arquitetos têm um papel significativo no tratamento das mudanças climáticas. Além disso, as extensões e implicações desta questão tornaram-se ainda mais aparentes durante a pandemia, já que, as mesmas atividades que contribuem para as mudanças climáticas possibilitam o surgimento de novas doenças. Nesse sentido, vários pavilhões nacionais optaram por enquadrar a questão de Sarkis através das lentes da sustentabilidade e das mudanças climáticas, explorando suas consequências nas comunidades e no ambiente construído ou investigando possíveis ações que poderiam ajudar a sociedade a avançar de forma sustentável.
Itália: Comunidades Resilientes
A exposição, com curadoria de Alessandro Melis, aborda a questão das mudanças climáticas por meio da resiliência urbana, explorando os meios locais de adaptação às mudanças nas condições ambientais e investigando cenários para o futuro. O pavilhão apresenta a pesquisa e a inovação italiana em diferentes campos, explorando ideias para melhorar as condições do ambiente construído e abordar as mudanças climáticas, com a esperança de definir a construção para um futuro sustentável. O projeto curatorial é moldado como um laboratório de pesquisa interdisciplinar que investiga como a arquitetura pode responder às questões ambientais e promover a resiliência.
Emirados Árabes Unidos: Wetland
Abordando o impacto ambiental da indústria da construção, o Pavilhão dos Emirados Árabes Unidos, com curadoria de Wael Al Awar e Kenichi Teramoto, apresenta uma alternativa ao cimento tradicional, cuja fabricação é uma das maiores fontes de emissões de CO2. A exposição apresenta um cimento inovador e ecológico feito de salmoura reciclada, um subproduto da dessalinização industrial. O projeto explora uma solução experimental local para mitigar as emissões de carbono no setor da construção, usando um recurso abundante nos Emirados Árabes Unidos e em países com ambientes semelhantes. O material de origem local pode ser moldado em tijolos padrão e apresenta a resistência e durabilidade necessárias para ser uma solução viável na redução das emissões de carbono.
Turquia: Arquitetura como Medida
A contribuição da Turquia para a Bienal reformula a emergência climática por meio da interação entre o mundano, a vida cotidiana e a escala planetária, destacando o papel da arquitetura ao abordar a questão. No contexto da atual crise climática, o projeto curatorial de Neyran Turan desafia uma reavaliação radical da relação da sociedade com o planeta e apela à uma re-imaginação do meio ambiente para construir um futuro alternativo. O foco na imaginação origina-se da urgência das mudanças climáticas que exigem abordagens não convencionais para produzir alterações estruturais significativas. O pavilhão explora a política e a logística da construção arquitetônica e, ao mesmo tempo, mostra as controvérsias ambientais em uma série de locais selecionados na Turquia.
Japão: Co-propriedade de Ação: Trajetórias de Elementos
O Pavilhão Japonês, com curadoria de Kadowaki Kozo, convida os visitantes a refletir sobre o movimento de mercadorias que alimentam o consumo de massa e a repensar a sustentabilidade e a reutilização na arquitetura. Ao desmontar uma antiga casa japonesa de madeira e transportá-la para Veneza para ser reconstruída em uma nova configuração, a exposição exemplifica como os materiais antigos poderiam ter uma existência inteiramente nova, colocando o movimento atual de mercadorias a serviço da reutilização e não do consumo. O projeto curatorial foca nas possibilidades arquitetônicas de reciclagem de materiais, criando um diálogo em torno da urgência da conservação de recursos.
Holanda: Quem somos Nós?
Levando a mitigação das mudanças climáticas para o nível da cidade, o Pavilhão da Holanda, com curadoria de Francien van Westrenen, defende um design mais inclusivo e uma abordagem mais voltada para o meio ambiente na arquitetura e no planejamento urbano. Entre os projetos apresentados, o Multispecies Urbanism, de autoria de Debra Solomon, propõe um desenvolvimento urbano interespécies e apresenta ferramentas para a criação de paisagens urbanas ambientalmente democráticas. A exposição e o programa de pesquisa Values for Survival, que a acompanha, visam inspirar as cidades a agir no que é considerado "a década decisiva das mudanças climáticas".
Confira a abrangente cobertura da Bienal de Arquitetura de Veneza 2021 realizada pelo ArchDaily. Não deixe de assistir à nossa playlist oficial no Youtube, onde apresentamos entrevistas exclusivas com arquitetas, arquitetos e curadores da Bienal.